Mergulho profundo

​Na política, o tempo tem suas próprias regras. Acelerar o passo pode ser tão arriscado quanto ficar para trás, e o cenário cearense, neste início de 2025, provou ser um laboratório fascinante dessa máxima

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A corrida pelo Senado no Ceará, que começou em ritmo de sprint, agora vive um hiato de silêncio e especulação.

​Na política, o tempo tem suas próprias regras. Acelerar o passo pode ser tão arriscado quanto ficar para trás, e o cenário cearense, neste início de 2025, provou ser um laboratório fascinante dessa máxima.

Mal o ano começou, e o tabuleiro da sucessão senatorial de 2026 foi posto com uma pressa inédita, atropelando calendários e a prudência que o jogo de poder recomenda.

​As principais lideranças partidárias moveram suas peças com voracidade, lançando pré-candidatos em uma ofensiva midiática e de bastidores.

A agenda era frenética: discursos inflamados para as bases, reuniões estratégicas para selar alianças e uma maratona de entrevistas em rádios, TVs e portais de notícias. No jogo de cena, não faltavam recados diretos e indiretos, elogios calculados e, claro, um bom blefe temperado com as inevitáveis fake news.

A intensidade era tamanha que a eleição de 2026 parecia marcada para o domingo seguinte, como uma final de campeonato disputada logo na primeira rodada.

​Contudo, o que se observa nas últimas semanas é o exato oposto: um silêncio ensurdecedor. O ímpeto inicial deu lugar a um vácuo de declarações e movimentos. As entrevistas rarearam, as postagens nas redes sociais tornaram-se protocolares e as grandes articulações parecem ter entrado em estado de hibernação.

​Para o bom observador da política e das histórias da nossa gente, a situação remete a um episódio icônico da memória icoense. Os pré-candidatos deram um mergulho tão profundo que faz parecer rasa a façanha do carismático e ex-prefeito de Senador Pompeu, Maurício Pinheiro, o Maurição. Ele parou a cidade ao se lançar da Ponte Piquet Carneiro no Rio Salgado, um ato de pura audácia que atraiu uma multidão e virou lenda. Foi um mergulho único, um espetáculo de coragem que entrou para o folclore local, estadual, nacional e internacional.

​A pergunta que paira no ar é: o mergulho dos políticos foi tão calculado quanto o de Maurição? Trata-se de um recuo estratégico para evitar o desgaste de uma exposição tão precoce? Seria um sinal de que os arranjos iniciais não se sustentaram sob o peso das primeiras pressões? Ou, talvez, uma ordem vinda de instâncias superiores para acalmar os ânimos e reorganizar o jogo longe dos holofotes?

​Essa pausa repentina deixa o cenário em suspenso, e a política, que parecia ter seu roteiro definido, voltou à estaca zero da imprevisibilidade.

Nem os mais atentos analistas dos grupos de WhatsApp ousam cravar um palpite. Resta ao eleitor e ao meio político aguardar para ver quando esses mergulhadores retornarão à superfície e, principalmente, com que fôlego emergirão para a verdadeira maratona que os espera.

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