A frase lembrada pelo advogado Fabrício Moreira em um grupo de WhatsApp revela muito mais do que uma boa metáfora. Virgílio Távora, um dos maiores líderes políticos da história do Ceará, sintetizou com precisão a natureza da vida pública ao dizer: “Meu caro, política é uma mulher sedutora, infiel e cara. Sedutora porque é apaixonante, infiel porque é traiçoeira e cara porque só se faz com dinheiro.”
Décadas depois, essa análise continua atual. Virgílio conhecia profundamente os bastidores do poder, entendia as forças que movem as alianças e sabia que a política é feita de encantos, riscos e altos custos.
A política é sedutora porque desperta paixão em quem enxerga nela a chance de transformar vidas. Oferece propósito, visibilidade e a sensação de que mudanças reais podem nascer de uma boa decisão. É essa força que atrai tantas pessoas ao serviço público, muitas vezes motivadas por vocação e desejo de contribuir.
Mas, ao mesmo tempo, a política é infiel. Ela muda de lado, muda de ritmo e muda de direção. Aquilo que hoje é aplauso amanhã pode ser crítica. Interesses se reorganizam e alianças se desfazem com a mesma rapidez com que foram construídas. Virgílio viveu esse ambiente intenso, cheio de imprevistos, e sabia que a política não se compromete com ninguém. Compromete-se com os momentos.
E política também é cara. Não apenas no sentido financeiro, embora campanhas, equipes, estruturas e comunicação exijam investimento constante. É cara porque cobra tempo, atenção, preparo, presença e responsabilidade. A vida pública não aceita improviso. Exige estratégia e entrega.
O pensamento de Virgílio Távora permanece relevante porque traduz a realidade atual. Em um cenário de polarização, disputas permanentes e crises sucessivas, sua reflexão funciona quase como um aviso: é preciso entender a natureza da política antes de entrar nela. Sedução sem cautela cega. Ingenuidade diante da infidelidade machuca. Falta de preparo diante dos custos derruba.
A frase de Virgílio é mais do que lembrança histórica. É uma análise precisa da política como fenômeno humano. Ela continua ensinando porque continua verdadeira. Política exige paixão, prudência e maturidade. E, acima de tudo, exige compreender que credibilidade é construída com trabalho real.
Um ensinamento que vale para governantes, militantes, comunicadores e para todos que observam a vida pública com atenção.




