“A gente nunca imaginou ter que ligar para o cemitério constantemente para comprar jazigos e deixar reservado por ter pessoas [da família] hospitalizadas. É uma coisa inexplicável”. O relato dramático é do acadêmico de Direito, Samuel de Souza Abreu, 24. Em um intervalo de 45 dias, ele perdeu seis pessoas da família para a Covid-19. A média é de uma morte a cada semana, durante um mês e meio. A informação é do Diário do Nordeste.
A avó materna do estudante, Maria de Souza Abreu, 81, era diabética e foi a primeira pessoa da família a morrer em decorrência da doença, no último dia 11 de fevereiro. Cerca de 15 dias depois, o irmão de Dona Eluína, como também era conhecida, veio a óbito aos 62 anos.
Na sequência, Samuel perdeu um primo, 44; além de três tias, de 77, 55 e 49 anos. A mais jovem tinha obesidade e as outras duas morreram na mesma madrugada do dia 16 de março.
As seis vítimas residiam no Bairro Mangabeira, no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Desde o início da pandemia até domingo, 11, o município contabilizou 97 mortes e 6.487 casos confirmados de Covid-19, conforme a plataforma IntegraSUS, gerida pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). O Eusébio está em estado de alerta altíssimo para transmissão da doença.
Além das mortes, aproximadamente mais 30 integrantes da família de Samuel – incluindo ele – foram diagnosticados com coronavírus. Seu avô materno e um tio também foram internados em UTIs, mas já receberam alta.
As perdas em um período tão curto de tempo provocaram abalos psicológicos e amplificaram o medo, levando a numerosa família a redobrar os cuidados para evitar a doença.
Por outro lado, fortaleceram a união entre todos. “A proximidade, o amor, o perdão, esses laços, que por alguma circunstância da vida ficaram afastados, hoje foram reatados”, considera Samuel.
A dor da ausência também se faz presente no dia a dia da fisioterapeuta Caroline Uchoa, 32. Em menos de 15 dias, ela perdeu o pai, com 65 anos; a avó materna, com 80; e o único tio por parte de mãe e também seu padrinho, com 52.
Diabético e hipertenso, o pai de Caroline trabalhava em uma concessionária de automóveis e foi o primeiro a apresentar os sintomas da Covid, no início do mês de março.
Em seguida, outros membros da família testaram positivo para a doença. A avó era pré-diabética, hipertensa e sofria com um problema no fígado. Já o tio era hipertenso e obeso.
A avó, aponta ainda, foi a última a falecer, no domingo, 4.
Em meio a tantas perdas, Caroline diz que “a luta ainda continua”, pois o seu avô materno está internado em uma UTI Covid, há mais de 20 dias. O idoso de 86 anos é diabético, hipertenso e tem Alzheimer.
Repórter Ceará (Foto: Arquivo pessoal)