Quixeramobim está sem ritmo na área da Saúde. Fragilizada desde o início da nova gestão, neste ano de 2021, em razão da pandemia e com o começo dos atritos jurídicos da Prefeitura com o Instituto Compartilha, o município já passou por troca de secretários, ainda não abriu os novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva no Hospital Regional Dr. Pontes Neto e desfalece na fiscalização da cidade quando o assunto é cumprimento do decreto com as medidas de segurança e controle local da Covid-19.
O caso do Instituto, de longe, é o que mais movimentou a pasta nos últimos meses. Uma versão alega atraso no repasse da Prefeitura para a Organização Social de Saúde. Em uma outra, a gestão declara incompetência do órgão, que atrasou os salários dos funcionários do HRDPN e da UPA. No final dos atritos, quem perdeu foi o Compartilha, que sai de Quixeramobim com uma péssima fama, e assume o recém-criado Instituto de Gestão Hospitalar e Saúde (IGHS), sem histórico de atuação em outras unidades.
Em meio a isso e com uma pandemia em curso, em uma ponta da corda da Saúde fixada no 1º escalão, Charles Pierry deixava a Secretaria. Assumiu, portanto, interinamente, Luciana Figueiredo, que ficou no cargo até o anúncio do novo secretário: Raul de Santa Helena Matias Dinelly. A troca de chefia despontou em questionamentos, como a nomeação de Charles para a pasta, se já havia um conhecimento prévio de sua concorrência à chefia do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO). Obviamente que, realizar a permuta de titulares é totalmente permitida, mas, dentro de quatro meses do início do mandato e com uma pandemia, se torna arriscado, principalmente pelo quesito do novo secretário já pegar a ‘carruagem andando’ e ter que se habituar a todo o cronograma implantando pelo antigo gestor.
Na outra ponta da corda, o sistema organizacional das ADSs se encontra em desordem, pela falta de médicos, profissionais da enfermagem e dentistas, essenciais na Atenção Básica do Estratégia de Saúde da Família (ESF, antigo PSF), tanto na área urbana como na zona rural, deixando parte da população desassistida. Ainda há relatos de quixeramobinenses que apontam, inclusive, falta de medicamentos no Centro de Abastecimento Farmacêutico.
Nesse cenário, se encontra a pandemia. Em um lado, é totalmente louvável e digno de ser ovacionado o acelerado processo de vacinação local, o mais rápido do Sertão Central. No outro, é totalmente desatenciosa a fiscalização das medidas de controle da Covid-19, chegando a permitir, por exemplo, que o comércio abrisse suas portas no final de semana, quando o próprio decreto publicado pelo município documenta a obrigatoriedade do isolamento social rígido, lockdown, aos finais de semana.
É totalmente compreensível a fragilidade da economia local diante de dois períodos de fechamento – em 2020 e 2021 –, principalmente pela falta de assistência contínua das três esferas Executivas – municipal, estadual e federal – para os comerciantes e para a população. No entanto, é necessário cumprir o determinado, e, para isso, é essencial a fiscalização, que começou, no início da segunda onda, de forma enérgica e decaiu com o passar dos dias.
Assim, não há tanto que se abstraia de positivo da radiografia da Saúde de Quixeramobim. É tão essencial atenção no trato público, quanto o zelo para manter e melhorar o funcionamento daquilo que não estava tão bom quanto se pensava.
No geral, lidar com a Saúde – uma das principais pastas nas três esferas governamentais –, que concentra alta demanda de atendimentos, vultosos recursos e controle de qualidade no serviço, não é fácil. Mas, Quixeramobim possui dois ex-prefeitos na chefia do Executivo, que, em suas passagens pela administração municipal, deixaram boa parte da população satisfeita com o trabalho desenvolvido. Prova disso, é que foram conduzidos à Prefeitura local, novamente. O que se espera, com isso, é que a experiência dê frutos que alcancem os quixeramobinenses e que o Governo possua agilidade em atender a demanda popular, sem esperar que a fissura seja exposta, a ponto do público tomar conhecimento antes que a gestão realize alguma ação para corrigir a falha.
Editorial do Repórter Ceará
Foto: José Leomar