Nasceu em Aracati, foi ordenado padre pelo Seminário de Olinda, e nomeado vigário de Quixeramobim em 1831, cargo que desempenhou até seu falecimento, em 1872. Além de padre exerceu diversas outras funções: diretor do jornal Íris Cearense, visitador diocesano, deputado, vice-presidente da Província (cargo que hoje corresponde ao de vice-governador do Estado) e exerceu a função de bispo do Ceará, de abril a maio de 1861, enquanto o primeiro bispo nomeado, D. Luiz Antônio dos Santos, chegava a Fortaleza.
Era líder do Partido Liberal na região, e um dos principais correspondentes de Quixeramobim com o jornal que divulgava os interesses do Partido: O Cearense. Como correspondente local, ele enviava notícias sobre a cidade, assinando como Pe. Pinto. Foi um dos membros da Comissão de Socorros de Quixeramobim, atuante no combate a epidemia de cólera, que ocorreu em 1862, tendo recebido como recompensa pelos serviços prestados a Comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo, indicada pelo Presidente da Província, José Bento da Cunha Figueiredo Junior, e concedida por D. Pedro II.
Durante o período da epidemia de cólera ele narrou o cotidiano vivenciado pela população, a partir das cenas que observava – tanto como membro da Comissão de Socorros quanto como padre, responsável por ministrar o sacramento da extrema-unção. Nas palavras dele, em carta ao jornal O Cearense em maio de 1862 “não é possível descrever com exatidão a tristíssima e medonha cena porque estamos passando. Não tinha ainda sido testemunha d’uma semelhante calamidade (…) o terror se tem apoderado de todos”.
Durante a mesma epidemia ele e o Cirurgião Francisco José de Mattos (criador da conhecida Pílula do mato) protagonizaram um embate evidenciado nos jornais O Cearense e Pedro II, ambos publicados em Fortaleza. O Pe. Pinto era representante do Partido Liberal, o Cirurgião Mattos era membro do Partido Conservador, e ambos usaram os jornais dos seus respectivos partidos como espaço de ataque e defesa. O padre acusava o cirurgião de desviar os recursos enviados pelo Governo, dando cobertores e remédios, que eram destinados aos pobres, para amigos que possuíam escravos e tinham condições financeiras de adquirir os produtos. O Cirurgião Mattos, por sua vez, acusava o Pe. Pinto de se recusar a ministrar a extrema-unção aos moribundos por medo de contrair cólera. A disputa não se resumiu apenas aos dois envolvidos, outras pessoas acabaram sendo arrastadas ao palco do conflito servindo de testemunhas.
Outra polêmica envolvendo o Pe. Pinto foi sua vida amorosa. No Brasil, em pleno século XIX, alguns padres mantinham as chamadas “amizades ilícitas”, relacionamentos amorosos, dos quais, não raro, resultavam vários filhos. O escritor José de Alencar, por exemplo, era um dos doze filhos de um padre que era figura notória na política cearense, o Senador Alencar. O cônego Antônio Pinto de Mendonça, por sua vez, manteve um relacionamento com Isabel Nícia da Rocha, com a qual teve três filhos, inclusive o mais velho recebeu o nome do pai.
Manuel de Oliveira Paiva, em Dona Guidinha do Poço, modificou o nome de vários habitantes de Quixeramobim mantendo a história dos mesmos e não deixou escapar o caso do vigário, denominando-o de “Pe. João”, o qual apareceu na obra afirmando “Lá a minha Maria, essa eu não posso tê-la na minha casa: é burra de padre, é amásia, é concubina, e os meus filhos são ilegítimos…”
Ainda na obra Dona Guidinha do Poço, a descrição do Pe. João é a seguinte: “excelente ancião, pai de família, sacerdote patriarcal”. Ismael Pordeus, na obra À margem de Dona Guidinha do Poço, comparou a história de Marica Lessa e relacionou os personagens reais da história de Quixeramobim e os personagens fictícios da escrita de Oliveira Paiva, fazendo a correspondência entre Pe. Pinto e Pe. João e entre Maria e Isabel Nícia.
Quando o Pe. Pinto faleceu já existia o cemitério público, no entanto, o local de sepultamento dele foi o altar da Igreja Matriz de Santo Antônio. Tal prática de sepultamentos nos templos católicos era comum desde a Europa medieval e vinha sendo combatida no século XIX pelos discursos higienistas dos médicos. Devido a sua importância no cenário local, não somente como político, mas como vigário da cidade por 41 anos, esta honra lhe foi concedida.