O arsenal de tratamentos para combater o câncer de próstata se diversificou nos últimos anos e tem sido capaz de aumentar as esperanças até dos pacientes que enfrentam metástase.
O aposentado Claudio Sicchieri, de 76 anos, é um dos que se beneficiou dos novos tratamentos. Ele começou sua luta contra o câncer de próstata em 2014 e, apesar de ter feito a retirada total do órgão há quase dez anos, o tumor voltou nos ossos.
“Retirei a próstata e cumpri a quimioterapia, mas o câncer voltou. O passo seguinte foram sessões de radioterapia: fiz 33 e toquei o sino da cura, mas meses depois o câncer voltou, agora nos ossos. Todo este processo foi me destruindo como indivíduo”, lembra.
Medicina nuclear
Sicchieri estava perdendo as esperanças quando ouviu falar sobre o uso da medicina nuclear no tratamento do câncer de próstata. A técnica consiste em injetar uma substância chamada Lutécio PSMA no paciente. Embora seja altamente radiotiva, a substância se conecta com células derivadas do câncer de próstata que estão espalhadas pelo corpo para aniquilar as formas mais resistentes de tumor.
“O uso da medicina nuclear pode dobrar a sobrevida de pacientes que estavam praticamente condenados a fazer rotinas exaustivas de radioterapia, em alguns casos leva até à cura”, conta o oncologista Dalton Alexandre, coordenador do Hospital Santa Paula, da Dasa, que foi líder do tratamento. Segundo ele, a técnica foi testada em 30 pacientes e 85% deles tiveram respostas muito positivas, sendo que dois tiveram a eliminação completa de células cancerígenas do corpo.
Sicchieri participou como voluntário nessa pesquisa e é um dos dois que obtiveram os melhores resultados. Inicialmente estava previsto que ele fizesse seis sessões, mas apenas cinco foram necessárias. “Não esperava uma resposta tão rápida. Estava tratando há quase 10 anos e nunca tinha visto uma redução tão intensa”, comemora o aposentado.
Medicina nuclear
O Lutécio PSMA é aplicado na veia dos pacientes como uma espécie de radioterapia líquida. Por ter altas doses de radiação gama, um tipo que pode afetar inclusive as pessoas ao redor, o tratamento é feito com muitos cuidados, sendo aplicado por profissionais de saúde paramentados com roupas anti-radiação.
Apesar de todos os cuidados necessários para a aplicação do radiofármaco, ele provoca menos efeitos colaterais nos pacientes que os métodos de radioterapia tradicionais. O protocolo tradicional de radioterapia prejudica até os movimentos dos pacientes, enquanto a técnica com o Lutécio PSMA provoca apenas uma secura das mucosas.
Entretanto, o tratamento com Lutécio PSMA ainda tem entraves no Brasil. Por enquanto, a técnica só é usada em clínicas particulares e nem os planos de saúde arcam com o custo médio de R$ 300 mil reais.
Cirurgia robótica
A medicina nuclear não é a única inovação para combater o câncer de próstata. A cirurgia robótica também tem avançado em precisão e sendo cada vez mais indicada aos pacientes.
A vantagem da cirurgia robótica é a realização de procedimentos menos invasivos, que permitem uma recuperação mais rápida para o paciente. O alto nível de precisão permite que sejam retirados apenas os tecidos afetados pelo câncer, sem prejuízos para a função erétil e o controle de urina.
“A cirurgia para câncer de próstata é o procedimento assistido por robô mais realizado no mundo. Isso acontece porque a cirurgia de retirada da próstata envolve grande complexidade: anatomicamente, os nervos que promovem a potência sexual e controle urinário estão grudados na próstata, então sem a cirurgia robótica é praticamente impossível mantê-los”, diz Ricardo Ferro, urologista especialista em cirurgia robótica do Hospital Brasília, da rede Dasa.
Vigilância ativa
O avanço da ciência nem sempre é para criar um arsenal mais potente. Por vezes, o que muda é o entendimento da doença, como ocorreu com pessoas idosas com câncer de próstata. Em muitos casos, os tumores crescem de forma lenta, especialmente em homens de idade avançada. Por isso, tem sido adotado o monitoramento ativo, em que há uma vigilância do progresso da doença, mas sem submeter os pacientes aos tratamentos tradicionais.
“Acima dos 75 anos, o diagnóstico de câncer de próstata se torna bastante comum e e nem sempre há necessidade de tratamento para o paciente, dada a lentidão de crescimento de muitos tumores”, observa o oncologista Daniel Herchenhorn, coordenador científico da Oncologia D’Or.
Herchenhorn explica que muitos pacientes, principalmente com tumores de baixo risco, podem ser manejados sem a necessidade de tratamentos imediatos. “É o que chamamos de vigilância ativa. O paciente é diagnosticado e acompanhado cuidadosamente por uma equipe multidisciplinar”, conclui ele.
Repórter Ceará – Metrópoles