Ao acompanhar o dia a dia das postagens nas redes sociais, é impossível não notar como alguns cidadãos se autoproclamam juízes, promotores, advogados e até rábulas, emitindo opiniões precipitadas e julgando seus semelhantes com a mesma facilidade com que deslizam a tela do celular. Aparentemente, esqueceram-se de um dos mais importantes princípios do direito: o contraditório e a ampla defesa.
Reputações são descartadas como lixo, condenadas sem qualquer cuidado em verificar a veracidade das acusações ou a justiça das flechas disparadas. Pessoas tornam-se alvos de julgamentos apressados, onde o desejo de apontar um culpado supera a busca pela verdade. Bastam uma menção, um boato ou uma insinuação de envolvimento em alguma transação, lícita ou não, para que o linchamento moral se inicie.
Vivemos em um regime democrático, onde a liberdade de expressão é um direito fundamental. No entanto, essa liberdade não pode ser confundida com o direito de destruir vidas sem qualquer fundamento ou responsabilidade. O que temos visto nas redes sociais é um verdadeiro Tribunal de Exceção, mais ativo, implacável e inconsequente do que em tempos passados.
É necessário refletir sobre as consequências desse comportamento. A presunção de inocência, a análise criteriosa dos fatos e a imparcialidade são pilares de uma sociedade justa. Quando esses princípios são ignorados, abrimos espaço para injustiças irreparáveis e para a corrosão do tecido social.
Antes de julgar ou condenar alguém com base em achismos ou suposições, lembremo-nos: a verdade exige cautela, e a justiça requer equilíbrio. O linchamento virtual não constrói uma sociedade melhor; pelo contrário, destrói o que há de mais precioso — a dignidade humana.