O Natal chega, mais uma vez, pedindo pausa, silêncio interior e reflexão. No entanto, em meio a um período que deveria ser marcado pela solidariedade e pelo cuidado com o próximo, assistimos a cenas que revelam o quanto ainda estamos distantes do essencial. Pessoas queimando sandálias como ato simbólico de protesto político ganham espaço e atenção, enquanto problemas urgentes e profundamente humanos seguem à margem do debate.
O gesto pode até carregar uma intenção ideológica, mas se torna pequeno diante da realidade de milhares de crianças espalhadas pelo Brasil e pelo mundo que sequer possuem um chinelo para calçar. Crianças que caminham descalças por ruas quentes, estradas de barro ou pisos frios, enfrentando diariamente a falta do básico, alimento, abrigo e dignidade.
É nesse contraste que o Natal nos interpela. Enquanto alguns escolhem transformar objetos em símbolos de confronto, outros lutam simplesmente para sobreviver. A política, quando se distancia da vida real das pessoas, perde o sentido. Ideologias, disputas e vaidades não aquecem pés descalços, não enchem pratos vazios e não confortam corações feridos.
O espírito natalino nos chama a colocar cada coisa em seu lugar. O confronto precisa dar espaço à empatia. O excesso de discurso deve ceder lugar à ação concreta. Há momentos em que é preciso deixar certos debates no canto deles, para que o foco volte a ser aquilo que realmente importa, gente.
Caridade não é apenas doar o que sobra, mas enxergar o outro com humanidade. É compreender que pequenos gestos, como um par de sandálias, um alimento ou uma palavra de cuidado, podem representar tudo para quem nada tem. O Natal não pede espetáculo, pede compromisso. Não exige aplausos, mas consciência.
Que este tempo nos ajude a olhar menos para símbolos vazios e mais para realidades esquecidas. Que possamos transformar indignação em solidariedade, discurso em ação e diferença em união. Porque o verdadeiro sentido do Natal não está no que se queima, mas no que se constrói. E o que se constrói com amor, dignidade e caridade permanece.




